terça-feira, 31 de março de 2009

Acordes de Sexta Aumentada

ACORDES DE SEXTA AUMENTADA


(Para os meus colegas da turma de Harmonia III da USP)

Segundo nosso professor Rogério, um acorde de sexta aumentada geralmente tem função de Dominante da Dominante, ou seja, no tom de Dó ele tem a mesma função do acorde de Ré Maior (que vai para sol e resolve em Dó).

Esses acordes de sexta aumentada são formados a partir de modificações desse acorde de Ré Maior.


Clique na figura par aumentar


Pela seqüência:

1º compasso) Ré maior com sétima → 2º c.) a nota fundamental de Ré é suprimida transformando o acorde em Dominante sem Fundamental (Fá# dim) → 3º c.) A nona (Mi) é adicionada (lembre-se que Mi é nona em relação a Ré e não em relação a Fa#, porque estamos considerando o acorde como dominante sem fundamental, então o Ré está lá subentendido) → 4º c.) A quinta do acorde é alterada para Lá bemol → 5º c.) A nona do acorde também é alterada, para Mi bemol → 6º c.) A inversão mais comum encontrada é com a quinta no baixo (Lá bemol).

É assim que se chega a esse acorde (segundo o Rogério). No final esse acorde tem muito pouco em comum com o acorde de Ré Maior (só sobrou o trítono de fato). Uma coisa que faltou dizer é que todas essas alterações podem ser utilizadas no lugar do Ré Maior original. Analisando o acorde final, vemos que ele é na verdade um Lá bemol Maior com sexta aumentada (Fá#). Segundo o nosso professor Paulo, esse acorde não tem exatamente a função de dominante da dominante e isso é uma das coisas que estão causando confusão na cabeça de alguns. O Paulo se baseia em um artigo encontrado no JSTOR para usar tal argumento, porém, apesar de eu ter chegado a dar uma olhada, eu não li o artigo (mesmo porque está em um inglês um pouco difícil, e eu fiquei com preguiça de traduzir) então não posso dar maiores detalhes sobre isso. Para quem quiser ler, eu estou colocando o artigo em filipefonseca.4shared.com na pasta Música USP 2008\Harmonia. Eu aconselho que nesse momento a forma com que o professor Rogério trata esse acorde seja levada em consideração por ser mais simples de entender e é essa a forma com que eu vou tratar esse assunto nessa postagem.

Eu já mencionei o fato de que esse acorde é usado no lugar do acorde de dominante da dominante, então fazendo a substituição no exemplo anterior ele fica assim:

Porém repare nas notas Lá bemol e Mi bemol. Elas descem meio tom para um Sol e um Ré. Ou seja, as duas primeiras notas que formam uma quinta justa entre elas descem para outras duas notas que formam uma quinta justa entre elas também, e todos nós sabemos que isso não era permitido (a tal da quinta paralela). Por isso os sábios compositores que não eram bobos nem nada resolveram esse problema da seguinte forma:

O Lá bemol desce enquanto o Mib se mantém. Esse retardo das notas Mi bemol e Do resultam na dominante 64 que se transforma em dominante e resolve na tônica.

Repare que o acorde de tônica é menor nesses exemplos, porém a dominante também poderia resolver na tônica maior:

Veja que a nota Mi do acorde 64 é natural e não bemol como nos exemplos anteriores.


COMO IDENTIFICAR OS ACORDES DE SEXTA GERMÂNICA, ITALIANA E FRANCESA?


Primeiro de tudo devemos ter em mente que todos esses acordes são acordes de sexta aumentada. O que difere entre eles é a “composição” do acorde, ou seja, quais as notas que são usadas em cada um. Também sabemos que esses acordes são derivados do acorde de Dominante da Dominante, e possuem a mesma função.


Para reconhecer esses acordes eu penso da seguinte forma:

1) O acorde de Sexta Germânica é o acorde de sexta aumentada completo, sem tirar nenhuma nota:

2) O acorde de Sexta Italiana não possui a quinta do acorde de sexta:

3) Porém o acorde de Sexta Francesa não é formado do mesmo jeito que os outros dois. A diferença é que a fundamental do acorde de Dominante da Dominante não é suprimida e conseqüentemente não se usa a nona. Então, o que sobra é um acorde maior com sétima menor e quinta diminuta (e usado na 2ª inversão, com a quinta no baixo):

Não esqueçam de uns pequenos detalhes:

Quando falei dos acordes de sexta germânica e italiana, e disse que o italiano não possui a quinta do acorde, me referi ao acorde de sexta aumentada (Lá bemol com Fá #), e não ao acorde de Dominante da Dominante (Ré com sétima), que é o acorde que deu origem ao acorde de sexta. Porém quando falo do acorde de sexta francesa eu me refiro sim ao acorde de Dom. da Dom. , dizendo que a quinta é diminuta. Cuidado para não confundir isso (na verdade é bem confuso mesmo...).


Agora já dá para identificar esses acordes.

Bacana não é mesmo?

Mas então você me pergunta: “E daí?!”

E eu te respondo: “Então...”


Lembra lá no começo do post onde eu mostrei que em um desses encadeamentos aparece uma quinta paralela? Todos sabemos que quintas e oitavas paralelas não são desejáveis em um encadeamento. O fato é que aqueles que consideramos grandes compositores, mestres como diria Schoenberg, não fazem quintas ou oitavas paralelas nas suas obras, e por causa disso nós também não devemos fazê-las em EXERCÍCIOS de harmonia ou contraponto, para podermos entender melhor o pensamento musical daquela época e conseqüentemente também a música de hoje. Bom, sabendo isso, então devemos arrumar um jeito de evitar aquelas quintas paralelas, e a solução para aquele problema já foi mostrada em um exemplo anterior. Mas às vezes, por causa do ritmo ou da frase musical, não é possível empregar aquele tipo de resolução do exemplo (o acorde de Sexta Germânicaindo para uma Dominante 64 e resolvendo na Dominante e indo para a Tônica), pois é necessário que o acorde de Sexta Aumentada vá direto para a Dominante. Então os compositores encontraram outras soluções possíveis para aquele problema das quintas paralelas. Uma delas como pudemos observar é a supressão da quinta do acorde de sexta aumentada, com isso evita-se o problema das quintas. Note que a terça do acorde (o Dó) tem que ser dobrada, porque senão pode ocorrer oitavas paralelas, pois tanto o Lá bemol como o Fá# vão para o Sol. Olhe o exemplo:

E podemos dizer o mesmo do acorde de sexta francesa:

Ambos são úteis para se evitar aquelas quintas paralelas.


Conclusão: para enriquecer a harmonia nós dispomos de alguns acordes que podem ser utilizados no lugar de outros mais simples sem modificar a função que ele tem. Aqui pudemos ver que existem alguns acordes que podem ser usados no lugar do acorde de Dominante da Dominante, e que eles nada mais são do que alterações cromáticas desse mesmo acorde. Vimos também que existem três tipos de acordes de sexta aumentada, o Germânico, o Italiano e o Francês. Pudemos constatar que existe um pequeno problema no encadeamento do acorde de Sexta Germânica com o acorde de Dominante (as quintas paralelas), que há uma forma de resolver esse problema (fazendo o acorde ir para a Dominante 64), e que os acordes de Sexta Italiana e Francesa são ótimas opções para evitar esse problema.


Qualquer erro, dúvidas, explicação que não dá para entender, algo que eu esqueci, por favor me avise.


Abs.


Filipe Fonseca

6 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo post e bem esclarecedor. Eu estou aprendendo isso agora, mas já ajudou muito!

Anônimo disse...

Parabéns Filipe,
além de me ajudar muito com sua explicação ainda admirei a sua inclinação para o ensino. Você tem refinada didática numa linguagem acessível e bem clara.

vai em frente colega e não deixe de escrever suas explicações na net.

Anônimo disse...

Parabéns
este post está me ajudando a estudar para prova de recuperação de harmonia II da USP RIBEIRAO PRETO

Anônimo disse...

Parabéns pelo post, muito esclarecedor!
Obrigado

Dani Caulfield disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Murilo disse...

Cara, não constumo comentar, mas desta vez faço questão.
Gratidão por sua iniciativa, muito obrigado.
Obrigado Felipe e obrigado internet!!!

Abraço!